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Wait aí uma beca

A minha vida não é fácil

Wait aí uma beca

A minha vida não é fácil

29.Set.17

Nós é que escolhemos o Presidente da Junta

É já no domingo o dia das eleições autárquicas e existem candidaturas para todos os gostos. Há quem tenha tido problemas com a justiça, quem não goste de ciganos, quem queira uma estação de metro em cada esquina, quem defenda lugares só para mulheres nos autocarros e quem prometa ampliar o cemitério. Acho estranho que ainda nenhum candidato tenha prometido apagar a derrota do Benfica em Basileia da história do futebol. É possível ver candidatos fora da sua zona de conforto, a distribuírem beijos e abraços e a andarem em transportes públicos, pedindo aos seus assistentes que tratem de comprar os cartões porque não sabem como é que funcionam as máquinas.

Os outdoors ganham toda uma nova importância. Noventa por cento deles contêm as palavras “mudança”, “todos” e “caminho” e para os elaborar basta ter conhecimentos básicos de “Paint”. As terras Branca, Coina e Caminha ganham maior projeção nestes dias. Um senhor de alguma idade insiste em afirmar que “Sintra, é este o caminho” mesmo quando estou a sair da vila.

As arruadas tornam-se uma tendência e carros de campanha são mais que muitos. Num só dia estive atrás de um “Oeiras feliz”, fui ultrapassado por um “Olhar em frente” e quase que o Isaltino me levou o pára-choques. Há brindes a serem oferecidos pelas várias ruas deste país mas até agora nem uma misera caneta recebi. Este domingo saiam à rua e vão votar, a caneta estará lá à sua espera.      

27.Set.17

Voo noturno

Partida à meia-noite de Lisboa e chegada a Atenas às seis da manhã. Sempre dá para dormir um bocado no avião, pensei eu ao reservar o voo, sem me lembrar que os gregos estão duas horas à frente do nosso país.  

Quando me aproximo do 21 A, está um jovem sentado ao lado, com um ar bastante sonolento que se levanta a custo para eu me sentar. Quando percebe que não está ninguém no lugar junto ao corredor, sentasse nele para ficar mais à vontade. O avião ainda não tinha deslocado e ele já tinha aterrado no mundo dos sonhos.

As luzes se apagam para levantar voo. Penso seriamente em parar de mascar a pastilha para não correr o risco de adormecer e ela deslizar pelo goto. Não será mal de todo se ficar a ouvir mal durante a viagem. Para a próxima trago uma almofada, um tapa-olhos, o meu pijama favorito e peço um copo de leite quentinho. Pelos altifalantes ouve-se grego e português mas para mim parece tudo chinês. O passageiro do lado nem nota que o avião está prestes a descolar.

Quando estou prestes a adormecer oiço movimentações no corredor. Vem aí comida de borla e por isso a sesta pode esperar. Ao lado é aberto o tabuleiro para colocar a cabeça. Nem o cheiro da comida o desperta. Agora com estômago aconchegado existem condições para uma boa soneca, isto se a respiração do lado não se tornar demasiado audível.

Acordo algo dorido mas o vizinho do lado está bem instalado. Está a utilizar dois lugares como cama, com os pés virados para o corredor e a cabeça muito perto do meu joelho. E quando é anunciado que o avião está prestes a aterrar, numa manobra de grande destreza, consegue se sentar no seu lugar e apertar o cinto sem utilizar sequer dez por cento da sua visão. Para o próximo voo noturno quero experimentar o que aquele jovem tomou.

 

            avião.JPG

 

13.Set.17

Je suis Tony

Aviso desde já que não sou fã do Tony Carreira, nunca o vi ao vivo e nem sequer fui a nenhum piquenique patrocinado por uma cadeia de hipermercados, mas sendo eu também um toni (sem a letra y no final porque ainda não sou reconhecido além-fronteiras), acredito que os tonis desta vida têm que se apoiar mutuamente, mesmo quando um de nós é acusado de plagiar onze músicas. Se tivesse apenas dez parecidas aposto que já não seria acusado pelo Ministério Público.

Sendo confirmada a acusação, o “Tony, faz-me um filho!” que a fãs tanto gritam tinha que ser alterado para um “Tony, sê o pai desta criança!” ou até mesmo um “Tony, adopta-me um filho!”.

A canção “Sonho de Menino” teria que sofrer uma revisão drástica:

 

E hoje a cantar não posso esquecer

Aquele lugar que viu o outro nascer

Tão bom recordar aquele cantinho

E os sonhos do outro menino.

 

Força Tony! (Roubei o título deste post algures numa rede social desta vida.)

07.Set.17

Pedras no caminho

Posso não precisar de acordar cedo mas às oito e meia da matina, mais minuto menos minuto, tenho acordado com as obras no jardim do condomínio. O meu despertador é da idade da pedra.

Fecho todas as janelas antes de adormecer mas mesmo assim acordo com o martelar das pedras de calçada, com as conversas que têm entre eles e com o tocar do telemóvel de um trabalhador bastante solicitado. Todos os dias acordo ao som dos Man At Work.

Tenho que ter fechadas as portas alumínio, que estão viradas para o jardim, para não entrar pó em casa e o estore baixo para evitar um encontro imediato com um rego de um trabalhador. Dentro de casa permaneço no fresco da escuridão, mas ao sair ao calor, com a presença da poeira no ar, com os trabalhadores com a cara tapada e a falarem numa língua estranha, basta por os Tinarwien como banda sonora e é como se estivesse em Marrocos ou na Tunísia. Deve ser esse o significado do “Vá para fora cá dentro”.

Pedras no caminho? Vou construir uma sala à prova de som.

 

           obrasjardim.jpg

 

01.Set.17

Cenas que me fazem urticária

Bolinhas, Pantufas, Fofa, Almôndega… os nomes queridos e fofinhos dados aos animais de estimação estão a perder terreno para os nomes de pessoas. Já é considerado normal ouvir na rua um “ Busca João!”, “Senta Raquel!” ou um “Dá a pata Carina Vanessa!”. Até existem nomes que passaram a ser mais comuns em animais do que em pessoas. Óscar, o nome do labrador dependente de bolas dos meus vizinhos, já é mais utilizado em animais de quatro patas do que no registo civil.

Há tempos alertaram-me que existe um bovino, a quem não se pode dar de comer, de nome António. Não acho mal nenhum tratar os animais como seres humanos mas daí até chamar de António a um boi… Será que também tem variantes do nome como Tó, Toni ou Toino e só quando faz algum disparate é que o tratam por António? Vida de bovino não é fácil.

 

Existem pessoas que são demasiado complicadas na altura de pedir a sua refeição. À partida, ir a um restaurante de fast food significa ter a comida disponível em pouco tempo, mas se tiver um toni à frente com um pedido mirabolante, o conceito torna-se not so fast.

Em vez de pedir um menu e seguir com a sua vidita, insiste em fazer várias perguntas e exigências do género: “ Só quero dois cubos de gelo na Cola,”, “Essa alface foi apanha hoje?”, “As laranjas desse sumo são de Bogotá?”, “A que temperatura vem a fatia de pizza?” “Quero um hambúrguer com alface, pepino agriões, cebola e alho francês mas sem o hambúrguer“.

E no final quando recebe o seu pedido ainda exclama: “Mas na foto a massa vem com morangos!!”. Quando finalmente chega a tua vez, reparas que ficaste meia hora à espera de pedir uma mísera bifana.