Era suposto ser mais uma normalíssima tarde de domingo mas tal não aconteceu. Convidado para um cafezito em casa de amigos cheguei alguns minutos depois da hora marcada e devidamente alertado que o andar era o oitavo. Apesar de já lá ter estado quando chegasse à entrada do edifício sem o aviso teria que ligar a alguém para me relembrar. A minha memória não dá para tudo, trabalho por turnos.
Abriram-me a porta do prédio e entrei no elevador carregando no oitavo botão como qualquer pessoa normal o faz quando necessita de ir para o oitavo andar. Começou a subir mas parou pouco tempo depois. A porta não abriu.
Será que já cheguei ao oitavo andar? Será que alguém quer entrar no elevador? Lá dentro não havia indicação de qual o andar em que estava e as portas permaneciam fechadas. Carreguei no botão de abrir e nada. Simplesmente estava parado.
Carreguei no botão oito e ele começou a subir. Deu-lhe a travadinha pensei eu, agora já deve seguir normalmente o seu caminho até ao andar pretendido. Parou novamente e do outro lado ouviu-se um “O elevador parou mas a porta não abre!”.
Comecei a panicar e a carregar em tudo o que é botão na esperança que a porta abra mas nada. Carreguei novamente no oito e o elevador voltou a subir.
E agora ele vai até aonde? Será que vou até ao topo e começo a descer sem o elevador nunca abrir as portas? Será que os senhores que salvam os prisioneiros dos elevadores trabalham nos domingos de agosto? Será que o Sporting já está a ganhar? Apesar de já ter lanchado já estou com uma certa fome e de certeza que tenho comida à minha espera. Ao menos podia ter a companhia de uma miúda gira.
Mas à terceira foi de vez e finalmente a porta se abriu e no andar pretendido. Saí de lá mais rápido que o Bolt. “Por acaso achámos estranho demorares tanto tempo a subir.” disseram eles quando viram o meu ar de felicidade. Havia comida e o Sporting estava a ganhar.
Quando saí fui pelas escadas. Oito andares a descer faz-se bem e dá saúde.
Reza a lenda que tudo começou com um toni que já estava há mais de sete dias em labuta em horários sortidos e variados e que rapidamente se alastrou por outros trabalhadores por turnos.
O zombie por turnos não sabe bem em que dia da semana está e passa grande parte do tempo de café na mão. Os bons dias, tardes e noites começam a ser cada vez mais imperceptíveis.
Veem tv shop, o programa da TVI em que está um tipo ou uma tipa num monólogo extenso a tentar convencer o espetadores a ligarem e a Maria Helena a fazer prognósticos das vidas das pessoas e visionam isso tudo porque não conseguem mudar de canal. Em casos mais avançados há quem fique a ver estática durante horas.
Onde antes corria sangue agora corre café e eles fazem sempre os mesmos movimentos e dão sempre as mesmas respostas. Até agora ainda não houve registo de um zombie por turnos que tenha comido carne humana mas já aconteceram rosnares e algumas mordidelas.
A cura para esta epidemia é enviar o trabalhador por turnos de férias para outro continente com tudo pago e só poderá beber no máximo dois cafés por dia.
Nesta altura é possível avistar pelos caminhos desta vida o corredor em tronco nu com a t-shirt na mão. Das duas uma, ou quando saiu de casa estava um nevoeiro localizado que se dissipou quando começou a correr e por isso tirou a t-shirt ou então saiu de casa apenas para aproveitar os 50 por cento de desconto em carne no Pingo Doce e acabou por correr até lá.
Continuando pelas t-shirts, existem uma quantidade considerável à venda a dizer “New York”, “Manhattan”, “London” ou “Amsterdam”. São giras e tal mas se ao menos fossem compradas na na respetiva cidade mesmo que na etiqueta diga “Made in Bangladesh”.
Não percebo a lógica de um toni andar com uma t-shirt a dizer “ I Love NY” comprada numa loja na Damaia e que nunca pôs os pés no continente americano.
Em qualquer concerto, desde Quim Barreiros a The National, existe sempre um Scorsese em potência. É aquele tipo que passa mais tempo a ver o concerto pelo telemóvel do que a olhar simplesmente para o palco que por acaso até está bem perto dele. Não interessa se o telemóvel é o último iPhone ou um que apenas tem uma camera vga, o que interessa é filmar.
Resta saber se algum dia irá editar os vídeos com o Movie Maker ou se apenas os põe no Youtube e no Facebook só para dizer que lá esteve sem sequer os rever.
Sven Martins nascido e criado na cidade sueca de Upssala mas filho de pais portugueses, sempre mostrou desde tenra idade uma enorme apetência para varrer o gelo. Depois de já dominar a arte do varrimento foi num ápice que se tornou perito no lançamento de pedras de granito. O seu destino estava traçado, ia ser uma estrela de curling.
Aos 18 anos de idade já era o capitão de equipa do Upssala Curling Club e conseguiu logo na sua primeira época ser campeão. A festa na pista foi enorme com Sven a usar orgulhosamente a bandeira portuguesa como capa. As três pessoas que estavam a assistir foram ao rubro.
Foi assim com bastante naturalidade que foi convocado para os Jogos Olímpicos de Inverno. Os Vikings on Ice, alcunha dada à seleção sueca, eram imbatíveis e na final venceram os canadianos por uns arrasadores 8 a 2. Mas o pior veio depois quando o controlo antidoping acusou a presença de estimulantes. Sven jurou que apenas tinha bebido um gin com red bull mas a decisão estava tomada e assim a jovem estrela caiu em desgraça e foi irradiado da modalidade.
Sven isolou-se de tudo e todos e passou a consumir grandes quantidades de bolachas de canela e almondegas do IKEA enquanto via filmes de Ingmar Bergman e de Manoel de Oliveira. Mas um dia quanto ia comprar mais almondegas conheceu Ingrid e foi amor à primeira vista.
Casaram e tiveram três filhos e todos foram incentivados desde pequenos a aprender a arte de lançar pedras no gelo. Sven acabou por regressar ao seu desporto de eleição e tornou-se no campeão regional mais velho de sempre aos 41 anos. Nunca mais bebeu gin com red bull.
Trabalhar em Agosto é encontrar poucos carros na estrada e os que por lá andam conduzem de maneira bastante alternativa e dizem que "está pouco traffic". Nas proximidades do trabalho encontras lugares que antes eram inatingíveis. Se tiveres a colaboração do segurança até podes estacionar no lugar do patrão que está de férias no Allgarve.
Há mais gente nos corredores em direção ao bebedouro e as conversas giram em torno de quem está quase a ir férias e de quem já voltou mas que já ia de novo. Pelo facebook há fotos de praia, piscinas, pés, contagens decrescentes para férias e alguém a espalhar good vibes.
Enquanto vou trabalhando vou trauteando esta canção:
Meu desagradável mês de Agosto
Em que vou passar os dias a trabalhar Trago olheiras no rosto Meu desagradável mês de Agosto e trago café para me ajudar
Hoje não foi preciso colocar o nome “Acorda Leão adormecido” ao meu despertador, ele está bem acordado e ativo.
O café onde compro o pão é gerido por benfiquistas e hoje pude fazer a minha entrada com um sorriso de orelha a orelha e a taça nas mãos. Quem me atendeu tinha uma pala no olho, disse que estava inflamado, por isso tentei ser o menos efusivo possível mas sem nunca tirar a minha expressão de leão indomável. Apesar de ser benfiquista o homem até é boa pessoa e eu gosto de ir lá comprar o pão.
Entrei no trabalho de cabeça levantada a cumprimentar efusivamente os sportinguistas e a fazer um olhar de “temos pena” aos benfiquistas com quem me cruzava. Por acaso até encontrei poucos e os que encontrei estavam resignados.
Dois troféus em tão pouco tempo, até sou toni para me habituar a isto.
Músicas sugeridas para a leitura deste post: O Leãozinho de Caetano Veloso e Jesus Salvador de João Marcelo.
Dia de apresentação do Sporting aos adeptos contra a Roma. Um amigo meu, que me arranjou o bilhete, disse que só devia chegar ao estádio depois das 19h. Passado umas horas afinal já chega às 18h30 e às 17h30 recebo uma mensagem a dizer que já ia a caminho.
Em direção ao estádio começo a receber mensagens de várias pessoas a perguntarem se já tinha chegado e distraído cortei à direita antecipadamente saindo assim fora da minha zona de conforto. Estacionei o carro em terra de ninguém.
Estavam cheios de pressa para entrar no estádio para não perder a apresentação por isso eu cheguei ao estádio sem beber uma única cerveja. Estive 90 minutos mais descontos apenas suportado por uma cola comprada no recinto
Durante a apresentação torci fortemente para que o William e o Ewerton, que se deslocavam em canadianas, não tropeçassem na carpete ou perdessem o equilíbrio ao subir ao palco. As grandes ovações foram para Jorge Jesus com Bruno de Carvalho ao lado e para o Gabriel.
Próximo de mim tinha uma criança e eu tentei estar o máximo de tempo possível sem dizer asneiras. Acho que durei 5 minutos. Slimani e Carlos Mané marcaram os golos da vitória na baliza mais próxima dos nossos lugares. Do Teo pouco se viu, Naldo esteve bem, Gelson promete e o Totti estava gordo.
Quando fui a Roma não vi o Papa mas já posso dizer que fui a Lisboa e vi Jesus de verde e branco.