O Oscar, jovem labrador cá do sítio, não tem lidado bem com o calor. Já vai aparecendo menos vezes e quando se apresenta apenas larga a bola no tapete de entrada e fica à espera deitado na sombra. Só no final do dia é que se torna mais ativo mas apenas faz duas a três perseguições bem conseguidas para depois descansar num montinho de areia e recordar o seu top 10 das melhores apanhadas.
O ancião Guma atualmente está a cumprir o turno da noite. Passa os dias dentro de casa a descansar para depois passar as noites no portão a controlar entradas e saídas do jardim e a assinalar a sua presença aos cães que estão a realizar o seu passeio noturno.
A gata Boneca vai fazendo as suas aparições na minha casa sempre que o Oscar não está por perto. Às vezes é para pedir que eu vá à casinha encher as tigelas com comida que ultimamente têm sido limpas por visitantes e outras vezes é apenas para socializar. Entra, vai distribuindo marradinhas, verifica a qualidade do chão e aproveita para fazer a sua higiene pessoal. À noite vai tendo algumas altercações com os visitantes e por isso anda com o nariz arranhado.
Os visitantes são dois e vão aparecendo sempre que podem, agora que descobriram onde está instalada a comida. Acabam sempre por parar e espreitar com curiosidade para o interior da minha casa. Ela deve estar bem cotada no TripAdvisor animal.
Mais uma road trip por Espanha, desta vez em direção ao sul do país. Já devo conhecer mais a terra de nuestros hermanos que Portugal.
Um dos grandes problemas de uma road trip é a seleção musical de quem leva o carro. Devo dizer que não foi nada fácil ouvir aqueles hits manhosos que passam em repeat nas RFMs desta vida. Desde Rihanna a Anselmo Ralph, passando pelo Agir e Bieber e acabando com Adele e outros artistas que não faço a mais pequena ideia quem são. O truque é fazer conversa mas há momentos em que é complicado.
Chegámos a Jerez de la Frontera e estava um calor muy fuerte. Havia um cheiro a urina no ar e muitas paredes mostravam o porquê do odor. Na minha cabeça, não sei bem porquê, tocava aquela música dos GNR com o espanhol. Conheci o Tio Pepe mas só bebi cerveja. O dia de eleições em Espanha estava próximo e atravessámos um arraial político porque Podemos.
Fomos à catedral de Cádis e deram-nos um telefone mas não era possível ligar para a família a dizer que estava tudo bem. Do outro lado da linha só se ouvia castelhano, por isso devia ser engano. Subimos a uma das torres mas sempre com a incerteza se deva tirar só mais uma foto à vista ou se saia logo para não correr o risco de ficar surdo e abananado.
Vimos o jogo de Portugal contra a Croácia numa esplanada em Córdoba. O jogo não foi grande coisa mas as tapas e a cerveja ajudavam a passar o tempo. Um espanhol perguntou-me quando é que jogava a seleção dele. Quando acabou o tempo regulamentar saiu e desejou-me boa sorte. Ao lado um artista de rua esforçava-se para ganhar uns trocos e ainda conseguiu se sentar com umas turistas e beber umas à pala. Quando a realização do jogo deu um grande plano do Ronaldo passou um espanhol que ao apontar para o televisor repetiu várias vezes algo parecido com “Mariquita!”. O Quaresma marcou e apesar de haverem poucos portugueses lá sentados gritou-se golo em alto e bom som. O artista estava a tirar selfies com as miúdas.
Todos os quartos de hotel em que ficámos tinham um telefone ao pé da sanita. Nunca se sabe quando é que é preciso pedir mais papel higiénico. O GPS lá se perdeu algumas vezes, até chegámos a circular na água, mas no final sempre conseguiu nos levar aos nossos destinos. Fomos mandados parar quando saíamos de uma bomba de gasolina. Estavam a lavar o carro mas viram tugas e acharam logo que tínhamos algo ilícito e fizeram logo sinal. Pediram identificações e para tirar tudo o que tínhamos nos bolsos. Até me pediu para levantar a t-shirt, talvez para ver se eu tinha uns abdominais definidos. Abriu todas mochilas mas fui o único a quem revistaram a carteira. Só porque tenho um ar mal nutrido não quer dizer que consuma cenas estranhas.
Como o meu pai fazia anos no dia em que regressava, comprei para lhe oferecer um avental com a bandeira da Espanha na esperança que ele fosse fazer o jantar mas acabámos por ir comer fora e eu é que paguei a conta.
As espectativas eram grandes, dizia-se que o grupo era acessível e a goleada à Estónia ainda entusiasmou mais o povo, mas por terras gaulesas a realidade foi bem diferente.
Primeiro jogo com os islandeses de quem se dizia ser a equipa mais fraca do grupo. Portugal dominou e o Nani acabou por marcar mas na segunda parte tudo foi diferente. Um tipo cujo nome acaba em “son” empatou no início da segunda parte e fez calar os adeptos portugueses tal como a Björk o faz na sua música mais conhecida. As lágrimas tatuadas no canto do olho do Quaresma já previam que ia ser um Europeu complicado.
Depois chegou a Áustria, terra do David Alaba, do Mozart e da música tirolesa. Sempre que me lembro do tirolês recordo o José Figueiras vestido a rigor a cantar algo parecido. Portugal atacou mais, teve várias oportunidades para fazer golo e o Ronaldo falhou um penaltie. Mais um empate. Porra, até o Paulinho Santos nos seus tempos áureos conseguiu marcar um golo à Áustria.
Passámos de bestiais a bestas. O Ronaldo passou de melhor do mundo ao tipo que não joga nada quando enverga a camisola das quinas. Portugal tem uma cena por máquinas de calcular. Até podemos seguir em frente se ficarmos em terceiro, dependemos é dos outros terceiros dos outros grupos. Precisamos de um Arquimedes português e do Gustavo Santos para motivar a equipa. Ama-te Portugal.
Ronaldo podes tirar uma selfie depois de marcar um golo, pedir ajuda à Nossa Senhora, comer as bananas que quiseres da tua terra, lavar várias vezes a cabeça com Linic por causa da oleosidade ou até fazer uma chamada via skype ao teu amigo marroquino mas por favor mostra o que vales contra os húngaros. Eu acredito que o Éder vai ser titular na quarta-feira e vai marcar um golo. Se fizer um hat-trick até acredito que vamos ser campeões europeus.
Andava eu no sábado pelo Twitter quando começo a ver fotos da Rainha de Inglaterra vestida de verde alface. Era dia de festejos do 90º aniversário da Rainha Isabel II e estava a dar na RTP1. Liguei a tv e deixei ficar um bocado por lá até que me lembrei de escrever no twitter isto: Só descobri que os santos populares também se comemoram em Inglaterra quando vi a Rainha vestida de manjerico. Mal eu sabia o que tinha começado.
Passado uns minutos um seguidor meu fez retweet e passados outros tantos recebi um retweet e passei a ser seguido pelo Sapo. A partir daí foi o caos. Comecei a receber retweets e likes como se não houvesse amanhã. O meu telemóvel não parava de apitar até que chegou uma altura que o próprio se cansou de avisar sempre que alguém gostava do que eu tinha escrito. O tweet estava em destaque na página do Sapo.
O sábado foi animado mas o domingo parecia ser bem mais calmo até que do nada o meu telemóvel começou a apitar que nem um camião do lixo a fazer marcha atrás. O meu tweet começou a ser apreciado por uma quantidade bastante considerável de adolescentes. Senti-me uma espécie de Nilton da juventude.
Recebi likes e retweets de pessoas de nome Psicopata Tarado, Lucifer, Minês e Moranguinho. Muitos dos nomes estão carregados de bonecada e até tenho uma estrela que gostou do tweet. Ainda hoje recebi notificações por causa desse popular tweet. Passei agora a ser seguido pela Barbie Gorda. Tenho que fazer uma intensa reflexão sobre o meu sentido de humor.
Quando me perguntaram se queria participar na corrida Marginal à Noite torci um bocado o nariz à ideia de pagar para correr numa zona perto da minha casa. Depois disseram-me que arranjavam dorsal e como bom português que sou já não podia dizer não a uma borla.
O dorsal não tinha chip por isso não ia ser controlado durante a corrida mas havia um drone a espreitar muito perto do meu local. A senhora nos altifalantes esforçava-se para animar a coisa. Tocou uma música do príncipe que tomou cenas que não devia e o “ Highway to Hell” dos AC/DC o que é um bocado para o exagerado. Para já a corrida não era em nenhuma autoestrada e depois oito quilómetros não são propriamente um inferno.
A corrida começou e teve direito a fogo-de-artifício. Fiquei na dúvida se devia continuar a correr ou comer doze passas e pedir desejos. Era tanta e tanta gente a andar e a tirar fotos que era bastante complicada a prática da corrida. Houve uma altura em que pensei em dar um salto a casa para ver se tinha deixado alguma luz acesa. Tentei atirar uma garrafa de água para dentro de um saco do lixo que um senhor estava a segurar mas falhei no saco e quase acertei no homem. Não sei bem com que tempo terminei a corrida.
Depois da corrida fomos todos para Santos. No carro cantei o “Apita o Comboio” e falou-se em água nos músculos. Já começava a ficar tarde e existia a fome.
Encontramos uma mesa e a custo fizemos o nosso pedido. As coisas demoravam a vir até que finalmente chegou uma senhora para dizer que já não havia sangria de tinto. O “Apita o Comboio” começou a tocar. Os pedidos chegavam muito vagarosamente mas não havia sinais da minha bifana. Cravei um bocado de entremeada e uma sardinha em solidariedade com a demora do meu pedido. Vi uma empregada atarantada com uma bifana na mão e chegou-se à conclusão que era minha. Pouco tempo depois apareceu outra. Com o avançar da hora a música pimba começou a se tornar muito alternativa. Talvez fossem músicas deste ano ou lados b dos artistas pimba.
Na ida para casa começou a fazer bastante sentido uma novela da TVI de nome Músculos de Água com música do Toy.
O Euro ainda não começou e já começo a ficar farto. Hoje foi dia da seleção chegar a Marcoussis onde ficará instalada durante o Europeu. Logo de manhã houve importantíssimos diretos para acompanhar o autocarro da seleção até ao aeroporto. E que giro que é ver a traseira de um autocarro e fazer exclamações do tipo: “ Ele está agora a passar o viaduto!”. Ver os jogadores a sair do autocarro também é giro porque algum se pode esquecer de alguma coisa e voltar para trás.
Como não é possível colocar um drone ou até mesmo um avião em perseguição para filmar a cauda do Eusébio, nome do avião da seleção, arranja-se conversa com convidados em estúdio intercalada com entrevistas a emigrantes ansiosos pela chegada do Ronaldo. É uma boa altura para aprender a língua emigrante. Há quem o siga por sites que mostram as rotas dos aviões. O comandante do avião chama-se Viriato.
O avião aterra em França e é motivo para última hora. É quase tão bom como um golo de trivela do Quaresma. Os jogadores a sair são filmados via Skype. Nunca me irei esquecer de tal momento. Não consegui perceber com que pé saiu o Ronaldo do avião. A emoção foi grande mas agora é altura de seguir o autocarro até ao centro de estágio. O autocarro chegou ao local pretendido e foi do caraças.
De futebol propriamente dito ainda nada pela Europa mas já está a decorrer a Copa América para quem tem insónias ou trabalha por turnos. Pela América joga-se bem duro, com muitas faltas, pequenas altercações e fitas merecedoras de um Óscar. Apesar da hora tardia o comentador faz um grande alvoroço talvez com o intuito de manter o espetador acordado. Já deu para ver um golo do Haiti ao Brasil, o hino do Chile a ser tocado em vez do uruguaio e que o meu sofá não é muito confortável para sonecas.
Convidaram-me para ir ver David Fonseca a Oeiras. Ultimamente não tenho ouvido muito o David, não marca presença em nenhuma das minhas playlists no Spotify, mas estava com curiosidade de ver um concerto dele. Já há uns bons aninhos ele tocou num Sudoeste onde marquei presença mas já não me lembro se por estar retido no canal ou por estar demasiado alcoolizado ou até mesmo por um combinado das duas razões que acabei por não o ver.
Quando a minha boleia chegou perguntaram se eu sabia onde ficava o Jardim Municipal. Claro que não sabia. O GPS acabou por mostrar o caminho. Estacionamos algo longe do recinto. Apontei o nome da rua no caso de o regresso ser complicado.
A feira até era bastante grande com bastantes barracas e divertimentos. Havia uma piscina onde se podia circular dentro de bolas de plástico que me apetecia muito experimentar mas que alegadamente era só para crianças. Só conseguimos encontrar o palco quando o David começou a tocar.
As festas da minha terra costumam ser frequentadas por gandulos, novatos na arte da gandulagem e por polícia com uns ocasionais tiros para o ar. Por lá nunca senti que a minha carteira estivesse em risco de mudar de dono. Um casal sénior que decidiu trazer cadeiras de casa para assistir ao concerto. Havia pessoal a fazer bolinhas de sabão o que podiam pôr em risco o concerto se alguma delas fosse parar à boca do David.
O David agora canta muitas músicas em português. Uma mulher entrou em palco para um dueto.”Não sei quem é mas está gravida!” Exclamou uma espetadora. Também não fazia a mais pequena ideia de quem seria. Era a Márcia. O casal sénior só animou quando chegaram as músicas do Variações que muito provavelmente seriam as únicas que conheciam.
Perto do final lançaram um paraquedas para o público. Estive um bom bocado a segurá-lo, sem ver nada do que acontecia em palco até que um assistente de palco acabou por o recolher. Se fosse na minha terra alguém o tinha levado para casa ou o rasgado com a sua faca de estimação.
Se no início do dia a senhora do tarot dissesse que as cartas indicavam que eu ia acabar a noite debaixo de um paraquedas eu dizia para ela mudar de baralho. Acabamos por encontrar o carro porque tínhamos a perfeita noção que estava estacionado numa rua em Oeiras.
O Dia Mundial da Criança é a altura ideal para se comportar como uma no local de trabalho. Mal chegue ao seu posto há que mudar a foto de perfil por uma de quando era mais pequeno. Uma corrida de cadeiras até à máquina de cafés é uma boa maneira de começar um dia laboral. Só beber café com leite.
Dar finalmente uso ao Paint para libertar a veia artística. Imprimir os desenhos e dar aos colegas. Colocar em alto e bom som músicas da Xana Toc Toc e ver fotos e vídeos recentes, de preferência sem som, da Ana Malhoa e da Luciana Abreu.
Brincar às escondidas com o patrão dá direito a horas de grande entretenimento mas só podes ser tu a ter o direto de te esconderes. Se estiver stressado nada como ir ao bebedouro para encher a boca de água e a cuspir para o primeiro colega que aparecer à frente.
Jogar as últimas novidades de jogos online, trocar cromos do Euro, devorar um corneto de chocolate sem limpar a boca e usar um marcador para pintar a cara. Fazer uma valente birra até o deixarem ir para o parque de estacionamento para jogar à bola com o porteiro.