O primeiro despertador tocou às seis e um quarto. Dormi pouco ou nada. Se calhar não devia ter visto os Xutos a noite passada. Não quero sair da minha alegre casinha.
No trabalho pouco ou nada acontece. Já vi os meus e-mails do trabalho, do Sapo, do Outlook e do Gmail. Quase que respondi a um tal de Gregory que afirma que tenho direito a uma herança. Tenho o Facebook e o Twitter abertos mas nada de extraordinário acontece. Eu é que não me lembro da password, senão também teria ido ao Hi5.
Já bebi pelo menos dois cafés. Quase que agradeci a máquina pela cafeína que disponibilizou a troco de moedas.
Fiz pesquisas no Google, Bing e Yahoo, viajei por Berlim sem sair da cadeira, procurei pelas últimas novidades de filmes e séries, consultei as últimas transferências no futebol e as respetivas mulheres dos futebolistas e ainda procurei por um emprego como controlador de areia em Bora Bora.
Consegui terminar o turno sem aterrar com a cabeça no teclado. Muitas mais coisas eu vi pela internet, mas que apenas ficaram registadas no histórico, que eu esqueci-me de apagar. Consegui terminar o dia sem aceitar nenhum desafio no Facebook.
Dia de procurar caches na Serra de Sintra. Como a área é bastante grande, o pessoal que cria as caches aproveita para as instalar em sítios bastante complicados. Não é de admirar se a descrição de uma cache seja algo do género: “Ninho de águia. Poderá ter que lutar com o animal e/ou dar de comer às crias.”
Num circuito criado pela malta do BTT, encontrámos uma cache em forma de caixa de música da Looney Tunes. A música estava assustadoramente alterada e o Bugs que saía dela já nem conseguia por as orelhas de pé. De noite a música e o ranger constante de uma árvore das redondezas provocaria tanto ou mais medo que o Blair Witch.
Outra cache estava situada onde, reza a história, o corpo de Júlio foi encontrado. Depois de atravessarmos uma quantidade considerável de silvas avistámos uma clareira onde estava um ténis “ensanguentado” com a cache. Pobre Júlio, dado o sítio onde foi encontrado, deve ter sido assassinado por uma Júlia Pinheiro desta vida.
Encontrar uma cache no meio de uma considerável quantidade de calhaus não é tarefa fácil. Como pista havia uma foto de calhaus, que não era de todo uma grande ajuda. A queda do telemóvel, que nos mostrava o caminho, entre pedregulhos foi um claro sinal que o melhor era desistirmos. O telemóvel sobreviveu. Foi uma chamada divina.
No final dez caches foram encontradas, o telemóvel resistiu mas o Júlio morreu. Não tivemos direito a sequer uma queijada pela nossa proeza.
Os Jogos Olímpicos chegaram ao fim e foram dias bem passados. Só na altura dos Jogos é que dou por mim a ver badminton, ténis de mesa e natação sincronizada sem mudar de canal. No badminton é algo inglório ver um atleta aplicar toda a sua força na raquete para certar num volante que acaba por travar no ar. O ténis de mesa faz-me lembrar os tempos de escola e o pouco jeito que tinha e há algo de relaxante em ver as pernas fora de água das atletas da natação sincronizada. Fico também bastante impressionado com o jogo de cintura dos atletas da marcha.
As provas de ginástica também têm muito que se diga. Ver uma chinesa a fazer acrobacias com uma bola, ao som de Whitney Houston, pode ser algo assustador. Vi também um norte-coreano a vencer a medalha de ouro mas a permanecer impávido e sereno. Deve se ter lembrado que não faltava muito para voltar o seu país. Só nos Jogos é que me lembro que o Palau, Nauru, Tuvalu e Vanuatu são países.
Houve pedidos de casamento, uma piscina com água verde, quem se atirasse para a meta e quem tenha acabado a maratona a correr de lado. Houve atletas assaltados e um falso assalto made by americans. O nadador Lochte, já com outra cor de cabelo, depois de descoberto acabou por pedir desculpas, afirmando que não mentiu mas que apenas exagerou na história.
Phelps, Bolt e a Simone Biles acabaram que por ser os atletas com mais medalhas arrecadadas. O Bolt ganhou também novas fotos de perfil para o facebook, da altura em quem sorriu para os fotógrafos em plena prova. A nossa grande Telma Monteiro levou o bronze para casa. Não me importava de ser atirado ao chão por ela.
Vou ter saudades de ficar acordado até tarde para ver os olímpicos e andar a mudar da RTP1 para a RTP2 e vice-versa, acabando por não ver as provas que queria. Vou já começando a preparar o sofá e o comando para Tóquio 2020.
Os Jogos Olímpicos não se passam apenas no Rio de Janeiro. No local de trabalho também existem disponíveis várias modalidades.
Os 10 metros bebedouro é uma prova que requer alguma velocidade quando a pausa laboral é pequena. No final é recompensado com água exatamente à temperatura que pretende, isto claro se o bebedouro assim o entender.
Se tiver pressa e não lhe apetecer levantar-se, sempre pode realizar uma corrida de cadeiras. Há que fazer os possíveis para se manter na sua pista para evitar colisões.
O lançamento de cenas para o caixote do lixo pode ser um desporto bastante entusiasmante mas se corre mal, o ato de levantar e ir apanhar já não é tão engraçado.
Qualquer altura do dia é boa para o levantamento da bolacha. Desde bolachas Maria, passando pelas tostadas ou até mesmo pelas recheadas, qualquer tipo de bolacha é boa para a prática da modalidade. Há que ter bastante cuidado para não ficar dependente de bolachas de canela.
É preciso um número considerável de fatores estarem reunidos para prática da modalidade mas quando tal acontece, o bocejo sincronizado pode ser algo de mágico ou só apenas deprimente.
Existem controlos antidoping, para o empregado não consumir demasiadas doses de cafeina e quando o turno termina, qualquer atleta se transforma num Bolt desta vida em direção à saída.
Oscar, o labrador que me usa como principal lançador de bolas, está de férias. O meu vizinho e as suas crianças estão de férias. Não sei o que vou fazer com tanta tranquilidade.
Posso começar por finalmente escrever as minhas memórias. Desde a altura em que escrevia quadras com as palavras espiga e farinheira para oferecer a uma colega de escola até ao começo da minha vida por turnos que é bem difícil e complicada.
Como uma viagem a Berlim está a se aproximar, posso tirar um curso de alemão. Ver e rever os filmes ”Das Boot”, “Der Untergang”, “Lola Rennt” e todas as temporadas do "Rex, o Cão Polícia". Falar sempre como se estivesse bastante chateado. Cuspir ocasionalmente.
Em altura de Jogos Olímpicos posso ver todos os jogos de ténis de mesa, badminton e natação sincronizada. Nos próximos Jogos estarei preparado para fazer os comentários dessas modalidades na RTP.
Com os filhos do meu vizinho fora, o meu computador vai deixar de tocar músicas da Xana Toc Toc, do Agir e os hinos dos três grandes do futebol. Posso guardar os ténis que só uso para chutar a bola ao Oscar.
Estava eu muito bem a trabalhar por turnos quando um colega começou a falar de um vídeo do Carlos Costa. Como não me bastava as desgraças dos fogos pelo país, tinha que ver outra por isso fiz play e coloquei em ecrã inteiro para o resto do pessoal ver. Comecei a ver o videoclip sem som e rapidamente passei de António para atónito. Só quando o vídeo ia a meio é que consegui arranjar forças para fechar a janela. Se o filme “The Ring” fosse com o Carlos Costa a sair da televisão no final do vídeo, seria bem mais assustador.
Como tenho os problemas que tenho, quando cheguei a casa fui ver o vídeo na íntegra e com som. A música chama-se ”Tequila” e por isso faz todo o sentido que ele se passe a chamar Carlos Cuesta. E perguntam vocês o que rima com tequila? Chinchila, vanilla e Godzilla e tudo isso aparece no videoclip. Há animais de laboratório que sofrem bem menos que a pobre da chinchila.
Há bastante bonecada, o cantor e bailarinos estão vestidos numa espécie de fato de banho do chinês e praticam o gira a garrafa. Carlos aparece nu e vestido com feno mas que infelizmente não arde. Se és surdo fica descansado porque existe o quadrado da senhora da língua gestual. Isto pode muito bem ter arruinado para sempre os meus shots de tequila…
O filme “Esquadrão Suicida”, sobre um grupo de vilões obrigados a salvar o mundo em troca de sentenças reduzidas, já está nos cinemas mas creio que a versão portuguesa teria muito mais piada.
O Deadshot, o assassino que nunca falha um tiro, seria representado por Vale e Azevedo, que por todos os sítios onde passou nunca deixou de levar o “seu”. Killer Croc, o vilão que tem um grave problema de pele que o torna semelhante a um crocodilo, seria interpretado pelo verde Ricardo Salgado que está mais do que habituado a se mover pelos pântanos financeiros em seu favor.
O Capitão Boomerang seria representado pelo homicida mais conhecido por Palito, que em vez de atirar boomerangs atiraria palitos mortais e El Diablo, o criminoso que controla o fogo, teria uma desta bestas acéfalas, que propositadamente põe Portugal a arder, no seu lugar.
Haveria também o mediático Joker Sócrates, que apesar de todas as ilegalidades cometidas, mantem a sua legião de seguidores e tem uma relação bastante complicada com a louca e imprevisível CMTV, que não olha a meios para conseguir o que quer.