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Wait aí uma beca

A minha vida não é fácil

Wait aí uma beca

A minha vida não é fácil

24.Ago.17

Uma aventura musical no Norte

Sábado foi dia de ir ao Festival de Paredes de Coura. Decidimos ir de avião até ao Porto onde depois tínhamos boleia até ao recinto. Fiquei sentado à janela mas separado dos meus amigos. Quando o João Pestana começou a aterrar no meu lugar, senti a presença de um telemóvel esticado à minha frente. A senhora que estava ao meu lado fazia bastante questão de tirar fotos do céu. Acabei por me voluntariar e tirar umas quantas fotos. Entre o meu trabalho de fotógrafo amador e a insistência do comissário de bordo em vender raspadinhas, não consegui pregar olho. À nossa espera no aeroporto estava um Land Rover sem ar condicionado e que não passava dos oitenta. Tinha tudo para ser uma viagem épica.

Almoçámos francesinhas acompanhadas por príncipes, que é uma espécie de imperial monárquica, e tango, que não é o sumo em pó. No caminho para o festival chegou a haver um duelo analógico versus digital, mapa versus GPS, e o resultado dessa batalha fez com que houvesse alterações significativas na rota, mas, num esforço conjunto, acabámos por conseguir chegar a tempo de ver o concerto de Manel Cruz. Podia-se ler ”Toca Ornatos ó boi!” num cartaz e o Manel disse que só depois do concerto é que tocava. Depois do Manel chegaram os Foxygen e o seu vocalista que pensava estar no Porto. No final tentei a missão quase impossível de atravessar a multidão para arranjar algo para comer e ainda dar um salto ao palco secundário para ver Alex Cameron. A Ivete não atuou no festival mas a poeira estava presente.

Benjamin Clementine chegou e conquistou o público com facilidade. Foram distribuídas lâmpadas para iluminar o espetáculo mas nenhum de nós conseguiu ligá-la, por isso culpámos as pilhas pelo não funcionamento. Só depois é que descobrimos que bastava puxar o cordão preso à lâmpada para ter luz. Ouvimos Ty Segall fora do recinto, na fila de uma rulote para tentarmos ter alguma comida no organismo. Voltámos para ouvir Foals mas não ficámos até ao fim porque ainda tínhamos que encontrar a casa onde íamos passar a noite.

Viver a vida no limite é seguir num jipe na reserva, confiando apenas no GPS e a ouvir um best of de música pimba. Felizmente o gasóleo chegou para encontrar a casa e ainda adquiri alguma cultura popular.

Domingo era dia de regresso a casa porque segunda já havia um turno para cumprir. Pelo caminho ainda tentámos contar os emigrantes na estrada, mas depressa perdemos o número. Pela condução, de certeza que havia uns quantos camuflados. Vem devagar emigrante. Parámos para almoçar num restaurante recomendado pelo condutor que queria voltar a comer carne de touro.

De volta à estrada, realizámos várias paragens para comprar água, para procurar abrigo do calor e ainda houve quem tenha criado uma espécie de ar condicionado portátil, patente ainda por aprovar, com uma garrafa de plástico. Infelizmente o fumo também nos fez companhia durante a viagem.

De noite vimos a luz. No alto, a palavra “GOD” estava iluminada por isso decidimos responder ao chamamento e parámos. O estabelecimento chamava-se “Bigodes” e as suas bifanas eram divinais. Seguimos o resto da viagem com o coração e o estômago cheios. Deixaram-me em casa perto da meia-noite e despertador insistiu em avisar que faltavam seis horas para exercer a sua função. Foi épico.     

 

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15.Ago.17

Já não há estrelas no céu

A noite de sábado era noite de chuva de estrelas. Dizem os entendidos que se deve procurar uma zona com pouca luminosidade e como tal escolhemos a Praia das Maçãs. Cada um trouxe a sua toalha e a ideia era estarmos todos de papo para o ar e ver as estrelas a cair. Claro que a ideia era bastante engraçada mas em Sintra há sempre o fator frio e nevoeiro a considerar.

O expert em estrelas do grupo disse que tínhamos que olhar para noroeste, onde a Cassiopeia, uma espécie de duplo v do céu, estava situada. Para nosso azar a Cassiopeia estava na direção da luz. Pareceu-me ter visto uma estrela a cair mas ninguém acreditou. Decidimos então experimentar a Praia Grande.

Quando chegámos estava um trator a limpar a praia que projetava luz suficiente para afastar qualquer estrela mais arisca. Tentamos outra zona da praia mas sem grandes resultados. Dentro dos ténis já continha vários tipos de areia, a toalha servia como manta para me proteger do frio e nem sinal da Catarina Furtado. Quando já estávamos prestes a desistir decidimos fazer uma última tentativa na praia da Adraga.

Até que, no caminho para a praia, avistámos o que parecia ser um conjunto de estrelas. Ao princípio pensávamos que era apenas uma projeção no céu mas quando começámos a vê-las em movimento, evitámos o choque em cadeia e estacionamos à beira da estrada para ver o espetáculo. Eu tirei fotos e uma amiga filmou mas claro que o resultado final foi escuridão.

Poeira cósmica? Um bando de pirilampos de luz branca? Uma concentração de ovnis? Eu tinha bebido uma imperial e estava com poucas horas de sono no meu sistema mas tinha testemunhas sóbrias e descansadas que tinham assistido ao mesmo que eu. Várias justificações foram lançadas ao ar mas nenhuma fazia grande sentido. Partimos a caminho da Adraga onde finalmente vimos algumas estrelas cadentes. Desejei um Sporting campeão mas o mais certo é receber uma pneumonia. O nevoeiro chegou para interromper o espetáculo mas a noite já tinha sido produtiva.

Só na segunda é que a verdade veio ao de cima. O ficheiro secreto foi resolvido. O bando de estrelas afinal eram balões com leds. Parece que é a última moda em festas e casamentos. E eu a pensar que podia aparecer num programa da manhã para falar do avistamento coletivo. A realidade é uma seca.

 

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10.Ago.17

E tudo o vento leva

Confesso que nunca vi o clássico de 1939 “ E Tudo o Vento Levou” mas aposto que no preciso momento em que Clark Gable beija Vivien Leigh não estava nem metade do vento que agora se faz sentir. Os Scorpions bem que cantam e desencantam a música “Wind of Change” mas este vento, em pleno Agosto, só serve mesmo para chatear.

Uma simples ida à praia para apanhar banhos de sol pode se tornar num desporto radical. As pedras no caminho servem para segurar a toalha na areia e o risco de ser atingido por um chapéu-de-sol desgovernado é bastante alto. Em pouco tempo consegues garantir um tom de pele granulado e, depois do banho, tens a garantia de uma secagem rápida.

É Agosto, ir à praia é um risco e o jardim do condomínio está em obras. A música da Ivete Sangalo tem-me acompanhado nestes dias complicados. A poeira é tal que não falta muito para adquirir o traje e os costumes de um tuaregue. Um tuaregue que é tuaregue não usa calções e talvez seja por isso que eu perdi os meus. O vento deve ter decidido levá-los para fazer mais um sprint nas redondezas.     

07.Ago.17

Clube de Trabalhadores de Agosto

A vida de um trabalhador de Agosto não é fácil. Quando meio mundo está na praia ou na piscina, agarrada uma cerveja fresquinha ou a um flamingo cor-de-rosa, o trabalhador de Agosto está no seu posto a consultar as redes sociais, na esperança de receber, via telemóvel, uma réstia de liberdade, e agarrado ao seu copo de água, pelo qual esperou uns bons 3 minutos, porque há quem decida levar garrafas de litro e meio ao bebedouro para encher.

Até que numa tarde, na fila do bebedouro, um toni afirma que se estaria bem melhor na piscina insuflável do seu miúdo. E assim nasceu o Clube dos Trabalhadores de Agosto.

A piscina, um mini frigorifico e quatro cadeiras são colocadas no parque de estacionamento, nos lugares dos diretores que nunca aparecem em Agosto, o Spotify vai tocando o “Meu querido mês de Agosto”, “Eu gosto é do Verão” e outras músicas veraneantes, e um patinho de borracha fica a tomar conta do espaço.

Para pertencer ao Clube dos Trabalhadores de Agosto é fundamental cumprir oito regras:

  • Nunca falar sobre o Clube dos Trabalhadores de Agosto
  • Nunca falar sobre o Clube dos Trabalhadores de Agosto
  • Uma pessoa de cada vez na piscina
  • Sem camisa, sem sapatos
  • Máximo de 5 minutos na piscina (tem que dar para todos)
  • Quando alguém lançar um monitor para a piscina, o tempo acabou.
  • Se for o primeiro dia no Clube dos Trabalhadores de Agosto, tem que entrar de chapão e voltar a encher a piscina.
  • Proibido passar a música do Despacito

 

Com a criação do clube, trabalhar em Agosto passou a ser bem mais tolerável.