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Wait aí uma beca

A minha vida não é fácil

Wait aí uma beca

A minha vida não é fácil

30.Out.17

Um quarto e cinco desconhecidos

O relógio já passa das duas da matina e vou passar a noite num quarto com cinco desconhecidos. Entro com uma grande vontade de acender a luz e desejar uma boa noite aos ocupantes mas este ato de grande civismo poderia ser mal interpretado. Numa das camas de topo encontra-se uma jovem de volta do seu telemóvel, o que me providenciou luz suficiente para descobrir o meu cacifo, com um cadeado pouco fiável, e a cama.

Calhou-me o lugar de cima de um beliche, o que complicou a logística do evento. Lá no alto consegui tirar a roupa, colocar os lençóis e pôr o telemóvel a carregar. A carteira ficou junto a mim, não vá alguém decidir fazer um levantamento noturno. Na outra ponta do quarto uma luz insistia em permanecer acesa. Estávamos a ser filmados. Espero que consigam captar o meu melhor dormir.

Antes de adormecer assalta-me uma questão pertinente: E se eu acordar com vontade de fazer xixi? Teria que descer a escada, apalpar caminho até à porta do quarto e depois circular pelo iluminado hostel até encontrar a casa de banho partilhada. Quando voltasse dessa pequena aventura, todos os vestígios de sono já teriam desaparecido. Consegui adormecer e acordei com o despertador do desconhecido número 3. O número 5 ainda ressonava. Decidi aproveitar os sinais sonoros e seguir caminho.

 Addio, adieu, aufwiedersehen, goodbye desconhecidos.         

23.Out.17

O paciente zero

Ir trabalhar doente pode ser complicado mas é a grande oportunidade de uma alguma vez ser mencionado na Wikipédia como paciente zero.

Era uma empresa normal como todas as outras, até que um dia uma tosse persistente começou a se alastrar e com ela trouxe mal-estar, secura e procrastinação. No dia seguinte o edifício inteiro se encontrava vazio, nem uma bola de feno circulava por lá. Foi um toni que os infetou.

“Eu só queria deixar doente alguns diretores e o Jorge que me rouba o lugar de estacionamento…” disse o toni no interrogatório antes de ser trancado num laboratório para um infindável número de exames médicos. A fama também traz os seus dissabores.  

Estar doente no trabalho origina uma considerável quantidade de recomendações, por parte dos colegas, de comprimidos, pastilhas e xaropes a tomar. Consegues andar no elevador com bastante espaço de manobra ou até mesmo com ele só para ti porque os restantes funcionários passaram a preferir a utilização das escadas. Quando aparece o melga de serviço, sempre se pode começar a tossir com insistência para que o seu monólogo seja abreviado.

As folgas são passadas em casa, a por as séries em dia enquanto se bebe chá de limões fornecidos por vizinhos e a tomar comprimidos acabados de comprar porque os que estavam guardados já tinham expirado há quase um ano.  

 

                                                   comprimidos.jpg

 

12.Out.17

Só vim cá para animar a Malta

Visitar Malta é a oportunidade única de dizer “Venho cá para animar a Malta”, “À beira da Valeta”, “Estou no Gozo” e de conhecer a fábrica dos Maltesers.

Depois de ver-me grego para chegar a Malta, culpa da escala em Atenas, continuei grego para encontrar a casa onde ficaria a dormir. Chego, já o sol se tinha posto, à morada que o Airbnb indicava mas nem sinal do número 21. Os malteses que estavam na rua, a por a conversa em dia, foram bastante afáveis mas também não me conseguiram ajudar. Entro em contacto via App com a senhora que alugou a casa, envio fotos do local onde estou mas não está fácil. Ela chega mesmo a telefonar-me e depois de alguma análise conseguiu perceber onde é que eu tinha ido parar. Ao que parece “Triq I-Iskola” quer dizer “Rua da Escola” e ao pé de uma escola existe sempre uma rua com esse nome. O Airbnb mandou-me para Zabbar quando devia-me ter indicado o caminho para Zejtun. Acabou por me ir buscar de carro.

Os malteses conduzem pela esquerda, têm tomadas estranhas, uma língua complicada e são bastante simpáticos. Um condutor de autocarros, na sua pausa, até chegou a me oferecer uma bolacha com pepitas de chocolate. E esse episódio não aconteceu na paragem Toni, que fica algures numa rua de Bugibba. Passei por uma varanda onde cães ladravam com bastante insistência. A minha reputação de lançador de bolas tinha chegado a Malta.

                      

                paragemtonis.jpg    caesmalta.jpg       

 

Nunca tinha visto tanta gente na Valeta. Num sítio mais recôndito da cidade, dava para escutar o som de uma televisão, saído do que parecia ser a entrada de uma oficina. Lá dentro encontrava-se uma senhora bastante atenta a uma possível novela maltesa e um senhor a descansar a vista, muito próximo de um conjunto de caixões. Era uma agência funerária da capital.  

Entrei no ferry para Gozo onde procurei uma Janela Azul, que só mais tarde é que percebi que tinha ruído. O mar esse era tão límpido que era possível ver os peixinhos a circularem. Não cheguei a visitar a Vila do Popeye e perdi assim a oportunidade de conhecer a minha Palito. Não cheguei a encontrar nenhuma fábrica de Maltesers. Os malteses gostaram tanto da minha visita que no momento em que o avião estava prestes a descolar era possível ver fogo-de-artifício. A Malta é fixe.      

 

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02.Out.17

Adeus Boneca

Esta é a última foto que tirei à Boneca. A gata nunca foi minha. Quando eu decidi para cá morar ela já frequentava a zona há bastante tempo e, talvez por isso, via com bastante naturalidade as visitas à minha casa. Ao princípio ainda lhe tentei explicar que o meu lar não era nenhuma guesthouse animal ou algo do género mas ela teimava sempre em voltar, então acabei por ceder e abrir o estabelecimento. Deixava ela passear, esticar-se ao comprido no chão, ia com ela até ao quartinho ao lado da minha porta onde tinha à espera latinhas de Whiskas que a vizinha de cima comprava e tornou-se modelo fotográfico para ilustrar as minhas parvoíces.

Quando voltei de férias encontrei-a encolhida na sala, com um miar muito tímido e quase sem conseguir abrir os olhos. Na sexta abandonou o quarto e nunca mais voltou.Agora sempre que subo o estore fico à espera que a Boneca apareça para lhe servir o pequeno-almoço.   

 

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