As lojas do chinês já não são o que eram antes. Quando apareceram eram pequenas, com empregados que mal falavam português e produtos de marcas duvidosas, mas tinham preços acessíveis. Agora são quase todas Super, Hiper Mega China, com trabalhadores não asiáticos e produtos mais caros. Nos dias de hoje, ao entrar numa loja do chinês é mais difícil encontrar aquela máquina de cortar cabelo da marca Troika ou os auscultadores da Sónia, mas a possibilidade de ter um empregado que se dirige a nós em português do Brasil é maior.
Mas ainda existem as pequenas lojas, que conservam o espírito das pioneiras. Quando entras, está quase sempre um empregado ao telemóvel. Falam sempre muito alto, quase aos gritos, e ele até pode estar a dizer que acabou de entrar na loja o cliente do cheiro peculiar que tu não vais perceber nada. Quando começas a te distanciar da entrada é dado início à expiação.
Há quem não desligue a chamada e parta em perseguição, mantendo uma distância de segurança, mas sempre com linha de visão para o teu paradeiro. Existe também o funcionário que se “lembra” que tem de organizar as facas, que até estão no mesmo corredor onde tu estás. Claro que também há o empregado que não está minimamente preocupado em ser detetado, ficando parado a olhar para ti, a sorrir, sempre a sorrir. Quando finalmente escolhes o artigo que pretendes, a tua sombra continua a seguir-te, e por vezes até vai ao balcão para fazer receber o pagamento. O português deles até pode ser algo limitado, mas conseguem sempre explicar o porquê de não fazerem trocas.
Queriamos um local para comemorar o Santo António, mas que fosse longe da confusão de Lisboa. Descobrimos que havia festa em Cascais.
À nossa esperava estavam filas e falta de mesas. Dividimo-nos em dois grupos: o grupo do comer e beber e o das mesas. A grávida tinha que ser a nossa enviada especial para conseguir arranjar um lugar sentado. Para a nossa refeição podermos tomar, um cartão era preciso comprar.
Conseguimos o cartão, mas ele não dava nenhum desconto em compras ou gasolina. Partimos rumo à segunda fila, que era uma espécie de comboio de três carruagens. Felizmente havia outra bem mais pequena, exclusiva a bifanas, caracóis e chouriços. Quem sardinhas quis provar, muito teve que esperar.
Estávamos em Cascais, por isso era possível encontrar quem estivesse demasiado bem vestido para um arraial. Entravam no recinto para perceber como é que os pobrezinhos brincavam aos Santos, usando o polo da Lacoste mais velhinho que tinham lá por casa. Houve até quem levou um cálice da cristaleira, só para beber o seu vinho. Os Santos há que festejar, mas o nível não pode nunca mudar.
Ao palco subiram dois senhores vestidos com fatos coloridos e intitulavam-se de Arrebimba o Malho. Um punha a tocar música popular portuguesa e outro dizia cenas variadas, tais como “Chuta!” ou “Quem sabe nunca esquece!”. Era uma espécie de Revenge Of The Pimba, só faltava aparecer o pequeno Saúl para cantar uma música. Nós, velhotes e cansados, lá acabámos por entrar no espírito da coisa e até fizemos algumas coreografias para a despedida. O Santo António já se acabou, mas a música pimba ainda agora começou.
Isto de ser Autor tem muito que se lhe diga. Há amigos que fazem questão de me dizer quais são os seus textos preferidos e os que ainda não têm o livro, querem com uma dedicatória personalizada. Arranjar dedicatórias diferentes para todos não é nada fácil. Houve até quem afirmou que o livro serviu como companhia na fase de internamento, até o nascimento da sua filha Amélia. Já tive direito a uma camisola do Sporting com o nome “O Autor” estampado. Agora só preciso de fazer golos com assinatura de Autor.
O glamour é tanto que hoje vou estar presente na Feira do Livro de Lisboa para uma sessão de autógrafos, às 19 horas, no espaço da editora Chiado. Preciso de figurantes, não remunerados, para estarem presentes no evento e de sugestões de livros ou de séries, que não tenham mais de 50 minutos, para ocupar o meu tempo nessa altura.
Vou aproveitar todo este hype para pedir uma redução da minha renda ao meu senhorio. A minha presença só está a valorizar a casa e quando eu sair, ele pode aproveitar e colocar uma placa com a seguinte inscrição: “Aqui viveu António Neves, Autor do livro A Minha Vida Não É Fácil”.