Artista de acidentes
A declaração amigável de acidente automóvel é algo muito giro de se ter, mas preenchê-la já é outra história. Estás parado no trânsito, à espera de chegar a casa para fazer uma tão desejada sesta, quando alguém decide entrar pela traseira do teu carro, talvez distraído por um poster publicitário da Tezenis. Chega assim a altura de preencher o papel e trocar contactos. O transtorno seria bem menor se ficasse com um número de uma mulher com muita saúde, mas tal nunca acontece.
Há campos bastante importantes para preencher, tais como a morada e o código postal da seguradora, e o número da Carta Verde, número esse que ainda hoje permanece um mistério. Mas o pior ainda está para vir, com o esquema do acidente no momento do embate à espera de ser feito no final da folha. Uma pessoa já está bastante alterada por ter tido o acidente e ainda tem que fazer desenhos. E eu que só passei a Educação Visual por bom comportamento. Há que tentar fazer rectângulos, mas não muito grandes para não parecerem camiões, e outras figuras geométricas que mostrem com o maior realismo possível o local do acidente. Infelizmente não trouxe os lápis de cor. Nunca irei comprar uma mota, só para não ter que a desenhar. As seguradoras bem que podiam fazer exposições com os melhores desenhos.
E depois de todas estas complicações ainda levas trabalho para casa. Há que preencher o verso da folha, e como tivestes o azar de ficar com o duplicado, terás que dominar a arte de scanear para criar um ficheiro que seja legível, mas que não ultrapasse o tamanho que a seguradora permite para anexar. Se conduz convém que saiba escrever, desenhar e scanear.
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