Não há nada como chegar a casa, depois de um cansativo dia de trabalho, calçar as pantufas de gel, e aterrarno cadeirãoque faz massagens e movimentos muito similares à cadeira do Mental Samurai.
O aquecedor de parede e o aparelho auditivo para ouvir o Goucha estão ligados. A televisão está sintonizada no canal Galeria e ao lado do cadeirão está uma mesacom petiscos variados, que foram cortados com uma precisão incomparável,através de um conjunto de facas único. Felizmente tem vestida a camisola que ajuda a remover a gordura localizada.
O João Pestana chegou fortíssimo, mas antes de cair na sua cama quesobe e desce, há que besuntar o corpo com o spray que eliminapêlos. Claro que só terá um sono descansado se as suas pernas estiverem a fazer conchinha com uma almofada ergonómica.E tudo isto em suaves prestações, sem juros e dobrado em várias línguas.
Sete anos de Wait Aí Uma Beca. Segundo uma pesquisa no Google, o número sete representa a totalidade e a perfeição. Sete são os dias da semana, os pecados mortais, os samurais de Kurosawa, os anões da Branca de Neve e os rios da estação de Lisboa.
Com tão tenra idade já sabe ler e até lançou um livro. Se não estiver a realizar o turno das seis da manhã, consegue compreender o seu corpo, possuir equilíbrio e demonstrar muita habilidade motora. Sabe se vestir sozinho, atar os atacadores, e tomar o café da manhã, o da tarde e todos os outros que forem necessários para sobreviver ao dia.
Parece estar sempre com a cabeça noutro planeta (um planeta constituído apenas por tonis) e já consegue fazer a distinção entre o bem e o mal, o certo e o errado. Mesmo assim, continua a insistir na publicação de posts. Venham mais sete.
Desde o final de Novembro que a capital do Natal deixou de ser a Lapónia e passou a ficar localizada na freguesia de Algés. O meu vizinho conseguiu arranjar quatro bilhetes e acabei por me juntar a ele e aos seus filhos na visita à terra mágica.
Logo na entrada perguntaram-nos se queríamos tirar uma foto de família com os bonecos de serviço. A partir daquele momento passei a ser um membro de uma família moderna. Os empregados falavam de uma maneira estranha.
O Miguel, com dez anos, e a Madalena, com cinco, começaram por dar umas voltas no carrossel, seguindo depois para os escorregas com bóias. Havia três escorregas, mas os miúdos não quiseram escorregar no maior. As próprias crianças é que tinham que arrastar a bóia até ao topo, porque no Natal há sempre algum trabalho infantil. Eu andei em todos os escorregas e fiquei orgulhoso por isso.
Decoraram biscoitos e passearam no comboio, mas não quiseram entrar no Palácio do Gelo, nem no ringue de patinagem. A roda gigante também não foi opção. Acabaram por passar a maior parte do tempo num insuflável. As poucas pessoas que andavam pelo recinto foram desaparecendo com o passar das horas. Cheguei mesmo a ver um senhor, encarregue de apanhar o lixo, com um semblante triste, a olhar para o vazio. Os visitantes eram poucos e asseados. Também havia empregados demasiado contentes por lá estarem. Cada um tenta sobreviver como pode.
No final do dia ganhei os carimbos da Alegria e Coragem no meu passaporte e ainda tentaram que eu ficasse com uma proposta para sócio do Benfica, que o Miguel ganhou na barraquinha do clube.
Nos primeiros dias do ano é habitual ouvir a expressão “Ano Novo, Vida Nova”, mas será que é mesmo assim? O que é preciso fazer para ter uma vida nova? Será que é necessário comer todas as doze passas para mudar de vida? E quem não gosta de passas, pode substituir por tremoços? E quem não quiser mudar, come Chocapic diretamente do pacote?
Se for possível mudar, o melhor será adquirir o pacote completo, que inclui um novo nome, emprego, morada, carro e cartão do Continente. Deixas de ser um Toni pintor, que conduz um Ford KA de 1998 nas ruas da Amadora, para ser o Gustavo youtuber, que passeia o seu novo Fiat 500 pelas estradas de Albufeira.
Mesmo com uma mudança tão radical, haverá sempre quem não fique satisfeito com a vida nova que lhe calhou. Por isso é que existem aquelas pessoas que passam grande parte do seu tempo a se queixar da vida. Deixaram passar o prazo de troca ou devolução da mesma, e são demasiado preguiçosos para escrever no Livro de Reclamações.
Seja um ano novo, semi-novo ou semi-velho, o que interessa é seja um ano Bom.