Sozinho em casa
Estou no meu quinto dia em casa e tenho tentado manter-me ocupado. O meu lado de fada do lar entrou em ação e o meu singelo T0, onde vivo sozinho, já começa a parecer um lugar habitável. Depois de muitas limpezas, descobri que sou um acumulador de papéis. Guardei muita coisa desnecessária, desde cartas de seguros de carros que já não tenho, a extratos da minha conta bancária com mais de dez anos. Até papelada da escola de condução, de onde tirei a carta no longínquo ano de 2004, eu tinha guardada. Entre folhas encontrei um charuto Davidoff, feito à mão na República Dominicana, oferecido num casamento de amigos no ano de 2013. Alguém sabe se ainda está no prazo de validade?
O Oscar, o labrador dos vizinhos, já não anda obcecado por bolas, mas quando começa a espreitar para dentro da minha casa, aproveito a oportunidade e saio correndo pelo jardim, com a bola que estiver mais próxima. Ele vai matando o vício e eu vou fazendo exercício físico.
Comecei a pensar ser cantor e letrista, mas não consigo passar do refrão, que vai alterando de “Miúda Gira” para “Mulher Bonita”. Ainda não defini qual será o meu estilo musical. Felizmente para a vizinhança ainda não comecei a treinar no jardim.
Têm sido dias difíceis, e o que me acalma, quando a ansiedade aperta, é olhar para o armário e verificar que ainda tenho dezasseis rolos de papel higiénico.