Continuo sozinho em casa
Oscar, o labrador dos vizinhos, tem sido o meu personal trainer durantes estes dias de isolamento. Infelizmente só faz treino com bola, dando preferência ao exercício com duas. Dos animais que frequentam o jardim, só os insetos é que não respeitam o meu espaço. De noite faço o meu passeio de quinze a vinte minutos pelos menus da Netflix e muitas vezes acabo por me arrepender da minha decisão. Com a televisão mais tempo ligada, descobri que todos os dias a box se desliga sozinha. Não tem uma hora fixa, apenas decide se apagar, como se achasse que eu já estou a ver televisão há demasiado tempo.
Ir às compras é uma aventura e arrumar as compras é todo um processo demorado. Borrifo tudo o que é embalagens com lixivia e passo elas com um pano, intercalando com lavagens das mãos. A meio do processo começo a questionar-me se necessito mesmo de tudo o que trouxe, ponderando regar o que não preciso com o álcool de 96% (que não serve para matar o “bicho”) e fazer uma fogueira. Arrisquei uma lavagem de roupa a 60ºC com t-shirts pelo meio e elas sobreviveram, apesar de algo amarrotadas. Descobri que tinha guardada uma capa de vampiro, do longínquo Carnaval de 2012, que serve para alternar com o blazer nas videochamadas de Skype.
Devo ser das poucas pessoas que durante o isolamento não fez qualquer tipo de pão caseiro, apesar de ter farinha em casa e no meu nome. Encontrei dois rolos de papel higiénico, escondidos num cantinho do armário, o que no mês passado seria o equivalente a sair o segundo prémio do Euromilhões.