Primeira ida à praia em tempos de Covid. Parti numa terça-feira, pós-almoço, rumo aos banhos de mar e areia. Usei máscara desde a saída do carro até ao local escolhido para colocar a toalha. Fui o único toni que fez tal coisa.Não havia muita gente no areal, por isso não foi necessário o uso de fita métrica.Mesmo com poucas pessoas, ponderei fazer montinhos de areia à volta da minha zona de descanso. Se eu tivesse odom das esculturas de areia construíamuralhas em meu redor.Seelas não resultassem, colocaria arame farpado e uma placa que diria: “Cuidado com o cão”.
Depois de tirar a roupa, não sabia se devia primeiro espalhar pelo corpo o protetor solar e só depois o álcool de 70% ou vice-versa. Considerei também passar um paninho com lixívia por todos os grãos de areia da minha zona.
O mar estava bravo, como é hábito nas praias de Sintra, mas mesmo assim arrisquei no primeiro mergulho do ano. Não fiquei muito tempo nele, só o suficiente para ficar molhado dos pés à cabeça. O mar dava claros sinais de querer permanecer em isolamento. Levei uma tareia, mas regressei feliz à toalha.
Enquanto estava a secar apenas uma pessoa ousou uma aproximação ao meu espaço. Foi uma criança que rapidamente foi chamada à atenção pelo pai. A maré começou a subir e alguns banhistas fizeram o mesmo. O meu toque de saída da praia chegou na forma do chorodo bebé de um casal do leste europeu, que estendeu as toalhas próximasda minha zona de conforto. Foi um dia de praia higiénico.
Já me começo a habituar a uma vida com máscara.Quando a coloco, sinto um calorzinho pouco agradável e umaaparentefalta de ar, que por momentos me puxa para o lado negro e ofegante da força. Se tapar o nariz e boca por algumas horas é complicado, imagino o pobreDarth Vader que andava todo o dia com um capacete colocado.Se à máscara juntar a viseira, fico automaticamente apto para entrar na Guerra das Estrelas Cadentes.
Experimentei máscaras cirúrgicas e sociais, e devo dizer que socialmente ganho novos atributos. Como os elásticos da máscara social são mais pequenos, eles realçam as minhas orelhas, que não são propriamente pequenas. Torno-me o Dumbo da Máscara Social, que não voa, mas protege as pessoas dos seus perdigotos.
Falar com a máscara pode ser complicado quando ela decide escorregar do nariz e seguir em direção ao queixo, mas o mais difícil é entender o que as pessoas dizemquando a utilizam. Eu que já oiço algo mal, tenho que pedir que repitam duas ou três vezes.Muitas vezes abano com a cabeça e tento imaginar o que me disseram. A normalização do uso das máscaras pode muito bem originar a criação de um programa de entrevistas de nome Baixa Frequência, em que a principal pergunta é: “O que dizem os teus lábios?”.
Em isolamento contínuo forte na lida da casa. Lavei todos os tupperwares que estão colocados na prateleira mais alta, porque raramente os utilizo. Quando se compra um conjunto de tupperwares há sempre aqueles que têm um aspeto fofinho, mas que são pouco ao nada úteis.Tenho caixasem que só cabem dois amendoins sem casca. Raramente faço fritos em casa, por isso não foi de estranhar ter encontrado a minha fritadeira escondida num canto, com óleo que já deve ter idade para conseguir dar os primeiros passos.
A pandemia alterou os meus consumos. Deixei de beber café, apesar de ter cápsulas em casa, e passei da mini ao final do dia para o copo de vinho. O stock de cervejasterminou, e uma ida ao supermercado apenas para as comprar deixou de fazer sentido, por isso comecei a recorrer às garrafas de vinho que me foram oferecidas ao longo do tempo.Passei assim a ter um gosto mais requintado, mas ainda tenho que ir ao Youtube para aprender comotirar a rolha sem a danificar.
Fiz a minha primeira corrida fora de casa desde que começou o estado de emergência. Há que procurar um local mais isoladopara evitar asgotas de suor aceleradas de algumrunner.Avistei poucos, mas os que vieu fugi. Descobri assim novos caminhos e conseguifazer umas boas voltas sem ninguém por perto.Nestes dias de pandemia há que fugir das multidões,mas se por acaso faltar força nas pernas basta relembrar a publicidade da NOS onde participa a Mariza.