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Wait aí uma beca

A minha vida não é fácil

Wait aí uma beca

A minha vida não é fácil

24.Jun.21

Esta vida de marinheiro está a dar cabo de mim

Partida da marina de Ponta Delgada em direção ao alto mar, em busca de baleias e familiares. Pouco antes do barco partir chega um jovem casal que ficará para sempre na minha memória. Ele com uma máscara do Rato Mickey, ela bastante branca e a puxar para o forte. O atraso deles pode muito bem ser explicado pelo que aconteceu horas depois. 

É a primeira vez que faço uma viagem tão longa de barco e tenho medo de enjoar. Dizem que o truque é olhar para o horizonte e foi o que eu fiz, na esperança de ver um repuxo de uma baleia. O tempo foi passando e começo a achar que não vou ver qualquer animal marinho. 

Parti na esperança de escutar o canto das baleias, mas acabei foi por ouvir o vomitar da rapariga que chegou atrasada. Foi com um saco cheio que a moça se aproximou de um tripulante e disse: “Olhe, virei o barco!”. Ele não percebeu. Ela deixou cair o saco. Há vomito no convés. Ela vendo o próprio vómito acabou por regurgitar mais um pouco. Uma boa parte do convés ficou preenchido com matérias que estavam contidas no estômago da rapariga. Coitado do tripulante que ficou encarregue do balde e da esfregona. 

Os sons guturais da jovem serviram como chamamento para o que parecia ser um grupo de golfinhos, que mais tarde fiquei a saber que eram baleias-piloto. Os belos cetáceos iam desfilando e o vómito ia sendo projetado dentro e fora da casa de banho da embarcação. Agora percebo o atraso do jovem casal, ela deve ter experimentado o pequeno-almoço português de Gordon Ramsay, que inclui carne de porco preto, legumes e ovos estrelados. Eram quatro longas horas passadas num barco, ela tinha que ir com o estômago aconchegado.  

baleiaspiloto.jpg

Houve mais pessoas que acabaram por regurgitar durante a viagem, mas a jovem parecia estar possuída. Das várias baleias-piloto que foram passando, pouco ou nada deve ter visto. A maior parte da viagem passou deitada, com o pobre namorado a amparar. Eu aguentei estoicamente até ao momento em que subi no convés. 

No topo comecei a sentir a viagem de outra maneira. Bem que olhava para o horizonte, mas já estava a começar a ver o estômago a andar para trás. Decidi descer para estabilizar e coloquei-me na lateral do barco. Melhorou, mas a situação continuava algo instável. Esta vida de marinheiro está a dar cabo de mim. Um tripulante gritou: “Tartaruga!” com sotaque açoriano, mas já não fui a tempo de a ver. Consegui avistar um enorme peixe-lua. A animação estava a ser grande para quem está enjoado, por isso decidi sentar-me. Pouco depois começou uma explicação, no preciso local onde estava, do que foi visto e do que podia ter sido visto na viagem, em inglês. Pouco ou nada consegui perceber. Um misto de enjoo e barulho do motor impediu-me de ouvir a explicação, só via o desenho das baleias e golfinhos que o senhor segurava. A aula em português já foi no cimo do convés, mas eu não arrisquei a subir. Minutos depois acabei por expelir o pouco que tinha no estômago para o mar. Perdi o controlo tão perto da terra. Acabei por não sujar o navio e alimentei alguns peixinhos. 

Pouco tempo depois a viagem terminou. A rapariga enjoada já pode finalmente almoçar uma boa caldeirada ou até mesmo um cozido das Furnas. Da próxima vez só deverá querer ver peixinhos no Oceanário. Eu sou menino para arriscar outra viagem de barco.

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