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Wait aí uma beca

A minha vida não é fácil

Wait aí uma beca

A minha vida não é fácil

26.Ago.21

Cantar de galo

Passei uns dias de férias na aldeia de Alte. Sempre achei uma boa ideia viver numa aldeia, longe da confusão e dos stresses da cidade, desde que não tenha galos. 

Ainda o relógio não marcava as sete horas e o galo de Alte já entrava em ação. Cantava alegremente, em alto e bom som, para toda a vizinhança ouvir, numa espécie de concerto interminável, para o delírio das suas fãs galinhas e para o meu desespero, conseguindo ser mais incomodativo que os sinos da igreja. Não percebia a razão para tanto alarido, talvez o galo estivesse a festejar mais uma vitória no Campeonato de Luta de Galos Algarvios (CLGA). As altas temperaturas, que se faziam sentir, obrigavam a janela do quarto a permanecer aberta, mas uma simples janela fechada não seria capaz de amortecer o som das cordas vocais do Bocelli galináceo. Já começava a sentir saudades do barulho dos carros a passar, das apitadelas e do camião do lixo a fazer a sua recolha. 

Vários foram os pensamentos assassinos que me passaram pela cabeça tais como: o raio do galo não passa de hoje; vou torturá-lo com as suas próprias penas; faço uma canja e abandono a cabeça dele à porta da igreja, para a celebração da missa do galo. Mas os dias passaram e eu acabei por nem sequer me cruzar com o galo. O calor foi mais forte que a minha sede de vingança. 

Como se não bastasse o galo despertador, certo dia um vizinho decidiu, às sete da matina, que era uma boa altura para montar um andaime e caiar paredes. Alte pode já não ter um recolher obrigatório, mas tem um acordar forçado.

 

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09.Ago.21

Estou todo vacinado

Dia de levar a segunda dose da vacina contra a COVID-19. Voltei a um sítio onde fui feliz, onde marquei vários golos na minha juventude, o local que antigamente era um campo a céu aberto. Agora é um pavilhão desportivo e graças à vacina fiquei a conhecer todos os seus recantos. 

Cheguei perto da hora marcada e havia uma fila longa para entrar. O verdadeiro tuga quer tudo o que seja grátis. A fila avançou depressa e a porta do pavilhão já estava próxima, mas a entrada não é direta, é preciso dar a volta completa ao pavilhão antes de entrar. Uma espécie de volta dos vencedores, antes de receber o prémio. Avistei uma senhora, uma runner desta vida, devidamente equipada e munida com dois cantis de água. Ela já sabia que ia ser uma prova de longa duração, por isso veio preparada. Eu também devia ter feito um aquecimento antes da vacina. 

Dentro do recinto recebo uma caneta banhada em gel e um papel para preencher. Sentado penso nos possíveis efeitos secundários da vacina. A primeira dose foi tranquila, mas e se a segunda dose for mais complicada?  E se eu desmaio? O chão devia ser almofadado. E se me nasce uma cauda ou uma orelha na testa?  Todos estes pensamentos pertinentes desapareceram quando fui chamado. 

Entreguei o papel e disseram para me sentar numa bancada. Pude assim ter uma melhor perspetiva de um espetáculo de gestos graciosos dos voluntários e das movimentações coordenadas dos futuros vacinados. Faltavam as pipocas. Pouco tempo depois pediram para me deslocar para uma cadeira mais próxima do grande objetivo. Da primeira vez não tive direito a uma tour tão detalhada pelo pavilhão.  

Finalmente fui chamado por uma enfermeira. Bastante simpática, deixou-me bastante à vontade e mal senti a picada. Não olhei uma única vez para a tão ansiada seringa. Bem que ela me podia apenas ter picado com um pionés que eu não suspeitaria. O chão não era almofadado. Colou-me no polo um autocolante com a hora de saída e segui para o recobro. Foram trinta minutos em que paguei a conta do telemóvel, naveguei pelas redes sociais e troquei mensagens, sem sentir em nenhum momento que estive próximo de beijar o chão e nem sequer um sinal que apareceu algo de novo no meu corpo.  Agora sim, estou todo vacinado, mas sem uma única selfie para o provar. 

 

vacinas.jfif