Borbulha na testa
Quando cheguei de Berlim, reparei que algo estava a acontecer junto à minha sobrancelha direita mas não achei que fosse preocupante. Estava redondamente enganado. Vários pontos negros juntaram forças para a criação de uma mega borbulha com o único objetivo de me complicar a vida.
Devido à sua localização, era difícil de a esconder. Mesmo com o calor que se fazia sentir, teria que passar a usar sempre um gorro ou um pano na testa e afirmar que na capital alemã todos andavam assim. Um penso rápido na testa, daqueles com bonecos, também podia virar moda.
Outra opção seria a de a deixar à vista mas sem nunca confessar que seria uma borbulha. Diria que a saudável alemã que conheci em Kreuzberg afinal tinha namorado e que ele era grande e agressivo. Também poderia afirmar que galo apareceu quando a prancha de surf, desporto que nunca pratiquei, bateu na minha cabeça durante uma onda gigante na Nazaré. Ter decidido dar uma volta, na segunda-feira, pela Rotunda do Relógio também poderia justificar o alto na minha testa.
Acabei por deixar a borbulha visível e evitar ao máximo o contacto visual com seres humanos. Aos que não consegui fugir, acabei por dizer a verdade e mudar rapidamente de assunto ou fingir que estava a receber uma chamada importante.
Agora que escrevo este texto já estou quase bom, mas ainda dá para perceber que algo deixou a sua marca na minha vida. Adeus Borbulha.