Deitar tarde e cedo erguer é complicado
São seis da manhã e ainda é de noite mas o despertador insiste que tenho que me levantar. Não me lembro de ter dormido. Na rua tenho à minha espera um friozito desagradável e bolas de ténis no chão.
No trabalho a equipa é quase toda constituída por mulheres. Falam de horários, de cães e de atores giros. Neste preciso momento podia estar a ter um belo sonho com a Charlize Theron, a Sara Sampaio e um bolo-rei. Elas falam muito.
Como não consigo apagar por uns instantes vou até ao bar mesmo quando não preciso de nada e até vou ao fumódromo apesar de nunca tenho experimentado um cigarro na vida. Elas continuam a falar muito.
O tempo vai passando e eu estou cada vez mais a ficar parecido com um carregador comprado no chinês: às vezes trabalho bem, outras sou mais lento e maior parte das vezes nem chego a funcionar. Tenho que ir beber mais um café.
A coisa começa a descambar quando o tipo das gravatas duvidosas começa a lançar piadas e a pedir-me que lhe cante ao ouvido. Uma pessoa não tem uma vida fácil, trabalhar por turnos, tem que acordar cedo num domingo a ainda tem que levar com estas conversas estranhas. Podia estar a ter um belo sonho com a Penélope Cruz mais a rainha dos dragões e rabanadas.
O turno finalmente acabou mas não posso comemorar de almofada na mão para o topo do vale dos lençóis porque tenho várias cenas a acontecer pelo resto do dia. Ao menos amanhã já estou noutro horário e posso dormir até tarde. A vida de um trabalhador por turnos não é nada fácil.