Não sei se quero o Euromilhões
Acertar nos cinco números e nas duas estrelas geralmente é motivo para uma grande festa mas eu não saberia bem como lidar com tanto dinheiro.
Ir aos saldos faz parte do meu ADN. Comprar aquela t-shirt ou casaco com trinta por cento de desconto é um hábito de pobre difícil de perder. Com o primeiro prémio do Euromilhões simplesmente compraria tudo o que queria, o que tiraria toda a emoção.
Deixaria de ter um estilo de vida radical. Perderia o privilégio de limpar o local inóspito que se encontra atrás do fogão e de tirar a gordura que está há meses acumulada nas grelhas do exaustor. Bolas de cotão nunca mais. Sendo o apostador premiado, passaria a ter várias empregadas e uma despensa maior que a minha casa. Não saberia o que fazer com tanto tempo livre.
O antes da viagem passaria a ser mais monótono. Não seria necessário fazer pesquisas diárias pelos voos mais baratos e o meu dom de encher uma simples mochila com tudo o que é preciso para viajar, seria desperdiçado. Perderia a experiência única de adquirir um quarto com oito beliches e de partilhar uma casa de banho com todos os hóspedes. Ter um avião privado, graças ao Euromilhões, com o nome “Toni nas Alturas” até poderia ser engraçado mas com o tempo passaria apenas a ser rotina.
Com o dinheiro do primeiro premio, ajudaria muita gente mas muitos mais tentariam se aproveitar da minha boa vontade. Devido ao intenso assédio, seria obrigado a deixar o país, fazer a barba mas deixando o bigode e mudar o meu nome para Ramon.
Mas, apesar de todos estes contras, continuo a apostar dois euros e meio, com números escolhidos pela máquina, porque gosto de viver a vida no limite.