Não te encostes a mim
Estar parado no trânsito é complicado mas pode ser a altura ideal para tratar de diversos assuntos. Há quem aproveite para tomar o pequeno-almoço, retocar a maquilhagem e até fazer a barba. É possível ouvir o álbum “69 Love Songs” dos The Magnetic Fields pelo menos duas vezes e todos os cds do Panda e os Caricas. Consegue finalmente ler as 1225 páginas do “Guerra e Paz” do Tolstói e fazer aviões de papel com as páginas de um qualquer livro do Gustavo Santos.
Parado dentro do carro consegue ter uma visão mais atenta do seu interior. Repara na quantidade considerável de pó no tablier, descobre 2 euros debaixo do banco do passageiro e encontra uma garrafa com um resto de uma água com cor estranha. Também pode interagir com os automobilistas que estão em seu redor por gestos ou mesmo baixar a janela e partilhar histórias de outros dias complicados.
Pode se queixar nas redes socias do trânsito e, se estiverem reunidas condições para uma selfie, até pode mudar a sua foto de perfil e receber likes em catadupa. O seu lado criativo pode vir ao de cima e elaborar uma canção:
Não te encostes a mim
Segue na tua faixa de rodagem
Não te encostes a mim
A distância de segurança tens que dar
Não te encostes a mim
Espera pela tua vez para teres passagem
Não queiras preencher a declaração amigável
Deixam-me a casa chegar