O que dizem os teus lábios?
Já me começo a habituar a uma vida com máscara. Quando a coloco, sinto um calorzinho pouco agradável e uma aparente falta de ar, que por momentos me puxa para o lado negro e ofegante da força. Se tapar o nariz e boca por algumas horas é complicado, imagino o pobre Darth Vader que andava todo o dia com um capacete colocado. Se à máscara juntar a viseira, fico automaticamente apto para entrar na Guerra das Estrelas Cadentes.
Experimentei máscaras cirúrgicas e sociais, e devo dizer que socialmente ganho novos atributos. Como os elásticos da máscara social são mais pequenos, eles realçam as minhas orelhas, que não são propriamente pequenas. Torno-me o Dumbo da Máscara Social, que não voa, mas protege as pessoas dos seus perdigotos.
Falar com a máscara pode ser complicado quando ela decide escorregar do nariz e seguir em direção ao queixo, mas o mais difícil é entender o que as pessoas dizem quando a utilizam. Eu que já oiço algo mal, tenho que pedir que repitam duas ou três vezes. Muitas vezes abano com a cabeça e tento imaginar o que me disseram. A normalização do uso das máscaras pode muito bem originar a criação de um programa de entrevistas de nome Baixa Frequência, em que a principal pergunta é: “O que dizem os teus lábios?”.